terça-feira, 28 de outubro de 2008

Metallica - St. Anger (2003)

Vamos falar do Metallica agora! Grande banda, e mesmo com seus álbuns mais "arriscados" eles ainda conseguem fazer algo muito legal. O problema visível (no caso, audível para falar a verdade) é que o Metallica, a partir do Load, começou a soar como um Stoner Rock Light, e não pop como muitos alegam (excluindo Mama Said e Hero of the Day). Reload continuou na mesma linha. Aposto minha cabeça que falariam muito bem desses álbuns se fosse uma banda estreante que os lançasse. Falariam "nossa! que banda sólida de rock´n´roll!" entre outros adjetivos.

Mas vamos falar da verdadeira Black Sheep do Metallica que é o St. Anger! Um álbum sem solos, com afinação mais baixa e uma das piores produções de todos os tempos. E ainda assim consegue ser uma "pedrada" na orelha!


Todo mundo odeia, público, crítica, até o seu cachorro, mas o álbum é muito interessante se analisarmos friamente e esquecermos o Metallica "das antigas" momentaneamente! Vamos lá:

01. Frantic

Uma música estranha, porém, muito interessante. Pela primeira vez o Metallica grava um disco numa afinação diferente, Drop-C (em Dó), mais grave, atual. Soa como um estranho cruzamento entre Queens of the Stone Age e Corrosion of Conformity, devido à afinação e à timbragem estranha. Frantic é um espetáculo bizarro em que o Metallica soa como Queens + Corrosion of Conformity com riffs dignos do Helmet e a voz é o James de sempre. É Metallica, mas com uma roupagem esquisita e interessante, ah, e sem solos. O final rápido e frenético é Black Sabbath puro.Nada a ver com Nu-Metal...

02. St. Anger

Digam o que quiserem, se tirarmos a afinação e as timbragens modernas, meio toscas, e a bateria de lata, e o fato de que não há solos. A faixa título St. Anger soa como Metallica antigo, autêntico, in-your-face, mais ainda do que os tracks do Death Magnetic. É uma faixa esquisita, que alterna momentos leves com batidas em bumbos duplos e um baixo ultra grave e pulsante. A única parte que chega a lembrar Nu-Metal são os gritos de "Push it out" entre as estrofes. De resto é Metallica puro. O que torna a faixa mais estranha para mim é o tamanho, mais de 7 minutos, e não é uma Orion, com várias partes diferentes, isso é um tanto cansativo, mas trata-se de uma boa faixa.

03. Some Kind of Monster

Misture Biohazard com Corrosion of Conformity, instrumentalmente, e surge esta faixa malandra chamada Some Kind of Monster. De repente aparecem pequenas frases soladas que lembram muito o mestre Iommi. Como nunca deixarei de defender, o Sabbath sempre marca presença aqui. A afinação baixa, tosca, sludge, suja, tudo lembra Sabbath em termos de timbragem, com a diferença de não termos solos e de que as batidas soam como latinha de cerveja. O que mais me chama a atenção é que o ritmo é marcado, meio pula-pula, mas a timbragem e o ritmo não são o que típicamente seria usado para esse tipo de som, fazendo uma mistura esquisitona e muito interessante. Destaque para os vocais desafinados de James, propositalmente, que soam muito legais dentro da faixa.

04. Dirty Window

Música estranhíssima. Desta vez misture punk e hc, em puro estado, com vocais pronunciados de forma meio country. E ao final dos refrões uma seqüência de breques estilo Pantera. A equação aqui é Misfits + Vocais Country + Pantera. Uma das faixas mais estranhas já escritas pelo Metallica. E muito interessante, por isso mesmo. É como se um bando de rednecks subisse num touro e resolvesse tocar em cima.

05. Invisible Kid

Black Sabbath resolveu tomar uma cerveja com o Korn e o Corrosion of Conformity, e chamaram o James Hetfield para cantar. Invisible Kid é a única faixa da história do Metallica escrita em guitarras barítono. Para quem não sabe uma guitarra barítono é uma guitarra tradicionalmente com afinação muito mais grave que a normal. Uma guitarra comum é afinada em E (Mi), uma barítono é afinada
em B (Si). Mas aqui o James baixou um pouco mais o tom e deixou em Ab (Lá Bemol, quase Sol, meio tom abaixo do Korn, que já é bem grave). E quer saber, ficou legal pra cacete! Soa como Toni Iommi experimentando com afinações esquisitas com o James Hetfield cantando em cima. A única reclamação é que a faixa é grande demais e não apresenta variações suficientes.

06. My World

Corrosion of Conformity puro, da timbragem, aos riffs, ao vocal, tudo. Só faltaram os solos. James canta muito parecido com o Pepper Keenan do Corrosion nessa faixa. Adicione uma pitada de riffs mais "quebradinhos" e dá nela. Não é muito original mas é bem legal!

07. Shoot Me Again

Esta faixa é interessante. É um cruzamento bizarro de Helmet (ritmo) com Alice in Chains (forma de cantar os versos, com vozes dobradas). Também tem um pouco daquele background meio country, meio perseguição no faroeste. James entoa "Shoot me Again I ain´t dead yet" no melhor estilo Henry Rollins (Black Flag, Rollins Band), de forma meio falada, desafiando quem quer que seja. Ao refrão, a parte vocal dobrada volta em cena "all the shots I taaaaake, I spit back at yoooouu". A faixa desembesta para um hardcore atrapalhado ao final, meio banda de garagem, e isso que é interessante.

08. Sweet Amber

Parece Corrosion mais uma vez, misturando com System of a Down, estrutura de rock´n´roll, meio despreocupado. Os riffs são diretos, não é uma das mais esquisitas, e tem aquele vocal clássico do James. Mas há partes em que o ritmo desacelera e soa como um cruzamento com o Pantera, com um ligeiro "breakdown" no ritmo, que logo volta à mesma estrutura rock´n´roll cervejeiro motoqueiro de sempre. Não é um dos destaques, mas é uma boa faixa.

09. The Unnamed Feeling

Sem dúvida a faixa mais próxima do Nu-Metal do disco. Afinação baixíssima, desta vez em Bb (Si bemol, a mesma utilizada no álbum Roots do Sepultura e muitos outros modernetes). O ritmo é mais cadenciado, e com os vocais ao fundo "been here before" sussurrados. Lembra System of a Down na estrutura e na forma de cantar, especialmente o refrão. E a parte "it comes alive, and I die a little more" quase falada no meio dos riffs batidos, chega a lembrar Korn, pois é meio claustrofóbica, com aquele ritmo martelado, repetido, mas soa bem interessante. O vocal é Metallica puro, em toda a faixa, lembrando da era Load / Reload, mas com toques de SOAD por toda a faixa, e um tanto de Korn. Quase ao final há uma parte em que acontece o clímax da música. James começa a murmurar, lembra muito Korn essa parte, por causa da forma de cantar, meio chorada, sofrida. A música acaba com um riff diferente, que lembra Deftones. É o mais próximo de uma "balada" no álbum e mesmo assim ESPANCA!

10. Purify

O riff do início desta música lembra Limp Bizkit, e até as partes quebradas, com bateria "tum tum; tum tum; tum tum; tum tum". Aqui até a linha de vocal é mais para Nu-Metal. Soa como um cruzamento bizarro de Limp Bizkit com Metallica e System of a Down, na parte do refrão. Faixa sem muitas variações, agradável, mas não inova muito.

11. All Within My Hands

Faixa interessantíssima. Começa com um riff e batidas "pancadeiras" e logo joga guitarra para segundo plano, sem perder o ritmo, e mantém a ênfase nos vocais de James, leves até, culminando em um coro que sobe de forma leve "ohhhhhhh" e chega no refrão que explode "All within my hands bewaaaaareeeeahhhh". A batida no refrão continua "tu-pa-tu-pa-tu-pa-tu-pa-tu-pa-tu-pa" e leva a uma seção com riffs quebrados remanescentes do Pantera, alternando com os riffs normais da música. Realmente, esta faixa é o Metallica antigo, guardado dentro deles, brincando com climas, alternando ritmos, e emprestando muito das estruturas musicais do Pantera. Genial, faixa fantástica, fecha o álbum com chave de ouro.

Veredicto? Sim, se vocês concordam ou não eu não tenho culpa nenhuma, mas eu prefiro o St. Anger do que o Death Magnetic, é sério. O Death Magnetic é mais próximo do Metallica original, tem solos, e muitas outras características boas, Trujillo tocando o baixo, etc. Se eu quiser o Metallica original eu ouço o grandioso Master of Puppets, ou o Ride the Lightning. St. Anger é um álbum legal pra cacete e pouco apreciado. Tentaram várias coisas novas, ritmos, afinações, influências, é um álbum experimental e interessante, e apanhou muito por causa disso. Os solos até que fazem falta sim, mas só mesmo AC/DC e Ramones para lançarem o mesmo álbum sempre e serem legais. Para o Metallica a mudança foi interessante, pelo menos naquele período. Para mim St. Anger é melhor até mesmo do que o Black Album! Pronto! Falei! Sorte dos que gostam...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Kiss - Music from the Elder (1981)

Todo mundo conhece o Kiss pelas máscaras, pela língua do Gene Simmons, nos dois sentidos, a língua que cospe sangue e a língua que fala besteiras por toda a imprensa! Realmente, sua principal função hoje em dia é falar, falar, fazer reality show, falar, falar mais um pouco, ganhar dinheiro em cima de merchandising (como sempre) etc. Bem, voltando ao Kiss!

Todos conhecem a banda pela língua e visual demoníaco de Gene Simmons, o visual glam de Paul Stanley as prezepadas, solos e pirotecnias de Ace Frehley e as batidas básicas e carisma de Peter Criss. Claro, tem outras formações também, mas como estou falando da formação clássica, e de um álbum que é quase da formação clássica não vou ficar explicando aqui quem são Mark St. John, Bruce Kulick, Tommy Thayer, Eric Singer, Vinnie Vincent, entre outros substitutos.

Embora a formação com Bruce e Eric para mim seja fantástica e tenha rendido dois belos álbums: Carnival of Souls e Revenge. Mas isso é outra história. É fato que o Carnival of Souls também terá um review aqui pois é, junto com o The elder, o segundo aálbum mais injustiçlado da história do Kiss. Tudo bem, o Kiss virou mesmo uma palhaçada hoje em dia, tá mais pra circo com Tommy Thayer imitando Ace e Eric imitando Peter Criss.

Enfim, vamos ao que interessa. Se o Kiss é espetáculo, teatral entre outros adjetivos, porque não ser épico também? Foi exatamente o que a banda quis fazer. Considerada, de certa forma, tosca por muitos, a banda quis se refinar e resolveu fazer um álbum conceitual! COnsiderado por muitos o maior tiro no pé da banda (embora qualquer outro cd deles dos anos 1980 seja pior, mas tudo bem). Neste disco a formação era: Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley (em termos, já estava chutado da banda praticamente) e Eric Carr (excelente baterista que morreu de câncer em 91, que Deus o tenha).




Com reviews de duas estrelas pela Allmusic e Rolling Stone e a incrível marca de 0 pelo site indiezinho-descolado-porco-venerado-por-muitos Pitchfork eu considero o The Elder um dos melhores álbums do Kiss. E é dele que farei uma review inspirada agora! Faixa-a-faixa:


1. The Oath


Não sei que raios que vêem de diferente aqui em uma faixa do Kiss. A energia é a mesma, o refrão com falsetes é ligeiramente mais épico do que as coisas que Paul Stanley canta. É um tanto diferente, mas é Kiss puro.


2. Fanfare


Faixa instrumental, dá o tom do disco, e abre com uma melodia que será reprisada em algumas faixas. É a melodia do refrão de "Just a Boy" e de um solo em "Only You". Orquestrada, interessante, teatral. Nunca encontrada antes em um disco do Kiss. A coisa mais épica que havia num disco da banda era a música Great Expectations do magnífico Destroyer, de 1978. Bela faixa.

3. Just a Boy


Aqui começa a ficar estranho, e é isso mesmo que eu gosto. Paul Stanley canta como se fosse mesmo "somente um garoto" e sobre sua missão, é como se fosse sua crise de identidade. Musicalmente é algo inexplicável, é como se o Kiss realmente estivesse fazendo um musical, inclusive com melodias de guitarras dobradas e violões em um estilo folk/épico. Fantástica!


4. Dark Light


Ace, o próprio, que quebrou o disco assim que o ouviu, e mal participou, mas registrou seus vocais bêbados-porém-muito-cool nesta faixa, que conta com riffs quebrados e suingados. Soa como se o Kiss tivesse um riff funk ao fundo e vocais recitados de Ace, algo meio Bob Dylan do espaço! Faixa legal, com muita energia.


5. Only You

Música fantástica com linha de baixo acompanhando os vocais de Gene Simmons e baterias pronunciadas de Eric Carr, além de partes com sintetizadores vocais em uma pont e mudanças de ritmo repentinas. Música estranhíssima porém muito agradável.


6. Under The Rose


Aqui Gene dá o tom novamente, com vocais incrivelmente suaves. A música vai crescendo, com baterias em tom de fanfarra de guerra medieval e vocais igualmente épicos no refrão. Esta é a música que mais me impressionou do Kiss ao ouvi-la pela primeira vez. Realmente impressionante e injustamente criticada. Muito melhor do que QUALQUER OUTRA BALADA DA FASE 80! Incluindo Forever. FALEI!


7. A World Without Heroes


Quem gosta do Kiss e não gosta dessa música é suspeito. Até no acústico ela entrou, ignoraram até o fato de que eles mesmos odeiam o álbum e a colocaram, em uma versão acústica impressionante. Único clipe do álbum, que por sinal nem tour promocional teve, somente algumas aparições na TV européia, a música fala do Pai do Gene. E tudo com direito a uma letra emocionante e lágrima do Gene, maquiado com cara de mau, no final do vídeo! LINDO ISSO!


8. Mr. Blackwell


Essa música assusta porque começa do nada. Literalmente, é a música mais estranha do Kiss, nem sei dizer com o que ela é parecida. É super progressiva e tem uma linha de baixo pronunciada, reta, mas que soa muito bem.


9. Escape From The Island


Instrumental animada, com direito a sinene e tudo (simbolizando a fuga da ilha, como o nome diz) nada de muito diferente, seria legal se tocada no começo de shows.


10. Odyssey


Sem dúvida a faixa mais linda de todo o disco. Até eu, fã do disco, quando ouvi pela primeira vez odiei. Pensei "Putz, Paul Stanley querendo ser Frank Sinatra ou algo do tipo". Pois é, exatamente isso, é Paul Stanley e cia. se levando a sério. Dá até arrepio quando o Paul entoa "From the far of Galaxy... I hear you calling me...". Se fosse qualquer outra banda tocando muitos venerariam a faixa. Hoje em dia é minha preferida do álbum, tem passagens lindas, um solo memorável, enfim, uma das melhores faixas da história do Kiss, não só do disco. Excelente!


11. I


Kiss, banda notória por ser anti-drogas, principalmente pela parte de Paul e Gene, judeus bem comportados, que sempre foram contra isso tudo. Sabe-se que Ace e Peter são chegados num "Mé" (bebida), e sobre Eric Carr eu não sei dizer qual era sua postura em relação às drogas. Pois essa música além de muito legal é praticamente um hino anti-drogas. "I Believe in me!" entoam Gene e Paul, dizendo, "Eu acredito em mim!" ressaltando que as pessoas não precisam de drogas para terem uma vida boa, para acreditarem nelas mesmas. Impressionante final para o disco, já que o mesmo fala de um herói, e os verdadeiros heróis não precisam de substâncias para sê-los. Eu acredito em mim, assim como eles dizem, e concordo com a mensagem. Faixa excelente!

Aqui termina minha review do Music From the Elder, álbum para qual eu dou nota 10. É, isso mesmo, para mim é 10. Melhor do que Crazy Nights, Psycho Circus Garcia, Hot in the Shade e muitos outros. Voltarei com mais reviews o mais breve possível!

Stay tuned for more happy days!