Vamos falar do Metallica agora! Grande banda, e mesmo com seus álbuns mais "arriscados" eles ainda conseguem fazer algo muito legal. O problema visível (no caso, audível para falar a verdade) é que o Metallica, a partir do Load, começou a soar como um Stoner Rock Light, e não pop como muitos alegam (excluindo Mama Said e Hero of the Day). Reload continuou na mesma linha. Aposto minha cabeça que falariam muito bem desses álbuns se fosse uma banda estreante que os lançasse. Falariam "nossa! que banda sólida de rock´n´roll!" entre outros adjetivos.
Mas vamos falar da verdadeira Black Sheep do Metallica que é o St. Anger! Um álbum sem solos, com afinação mais baixa e uma das piores produções de todos os tempos. E ainda assim consegue ser uma "pedrada" na orelha!
Todo mundo odeia, público, crítica, até o seu cachorro, mas o álbum é muito interessante se analisarmos friamente e esquecermos o Metallica "das antigas" momentaneamente! Vamos lá:
01. Frantic
Uma música estranha, porém, muito interessante. Pela primeira vez o Metallica grava um disco numa afinação diferente, Drop-C (em Dó), mais grave, atual. Soa como um estranho cruzamento entre Queens of the Stone Age e Corrosion of Conformity, devido à afinação e à timbragem estranha. Frantic é um espetáculo bizarro em que o Metallica soa como Queens + Corrosion of Conformity com riffs dignos do Helmet e a voz é o James de sempre. É Metallica, mas com uma roupagem esquisita e interessante, ah, e sem solos. O final rápido e frenético é Black Sabbath puro.Nada a ver com Nu-Metal...
02. St. Anger
Digam o que quiserem, se tirarmos a afinação e as timbragens modernas, meio toscas, e a bateria de lata, e o fato de que não há solos. A faixa título St. Anger soa como Metallica antigo, autêntico, in-your-face, mais ainda do que os tracks do Death Magnetic. É uma faixa esquisita, que alterna momentos leves com batidas em bumbos duplos e um baixo ultra grave e pulsante. A única parte que chega a lembrar Nu-Metal são os gritos de "Push it out" entre as estrofes. De resto é Metallica puro. O que torna a faixa mais estranha para mim é o tamanho, mais de 7 minutos, e não é uma Orion, com várias partes diferentes, isso é um tanto cansativo, mas trata-se de uma boa faixa.
03. Some Kind of Monster
Misture Biohazard com Corrosion of Conformity, instrumentalmente, e surge esta faixa malandra chamada Some Kind of Monster. De repente aparecem pequenas frases soladas que lembram muito o mestre Iommi. Como nunca deixarei de defender, o Sabbath sempre marca presença aqui. A afinação baixa, tosca, sludge, suja, tudo lembra Sabbath em termos de timbragem, com a diferença de não termos solos e de que as batidas soam como latinha de cerveja. O que mais me chama a atenção é que o ritmo é marcado, meio pula-pula, mas a timbragem e o ritmo não são o que típicamente seria usado para esse tipo de som, fazendo uma mistura esquisitona e muito interessante. Destaque para os vocais desafinados de James, propositalmente, que soam muito legais dentro da faixa.
04. Dirty Window
Música estranhíssima. Desta vez misture punk e hc, em puro estado, com vocais pronunciados de forma meio country. E ao final dos refrões uma seqüência de breques estilo Pantera. A equação aqui é Misfits + Vocais Country + Pantera. Uma das faixas mais estranhas já escritas pelo Metallica. E muito interessante, por isso mesmo. É como se um bando de rednecks subisse num touro e resolvesse tocar em cima.
05. Invisible Kid
Black Sabbath resolveu tomar uma cerveja com o Korn e o Corrosion of Conformity, e chamaram o James Hetfield para cantar. Invisible Kid é a única faixa da história do Metallica escrita em guitarras barítono. Para quem não sabe uma guitarra barítono é uma guitarra tradicionalmente com afinação muito mais grave que a normal. Uma guitarra comum é afinada em E (Mi), uma barítono é afinada
em B (Si). Mas aqui o James baixou um pouco mais o tom e deixou em Ab (Lá Bemol, quase Sol, meio tom abaixo do Korn, que já é bem grave). E quer saber, ficou legal pra cacete! Soa como Toni Iommi experimentando com afinações esquisitas com o James Hetfield cantando em cima. A única reclamação é que a faixa é grande demais e não apresenta variações suficientes.
06. My World
Corrosion of Conformity puro, da timbragem, aos riffs, ao vocal, tudo. Só faltaram os solos. James canta muito parecido com o Pepper Keenan do Corrosion nessa faixa. Adicione uma pitada de riffs mais "quebradinhos" e dá nela. Não é muito original mas é bem legal!
07. Shoot Me Again
Esta faixa é interessante. É um cruzamento bizarro de Helmet (ritmo) com Alice in Chains (forma de cantar os versos, com vozes dobradas). Também tem um pouco daquele background meio country, meio perseguição no faroeste. James entoa "Shoot me Again I ain´t dead yet" no melhor estilo Henry Rollins (Black Flag, Rollins Band), de forma meio falada, desafiando quem quer que seja. Ao refrão, a parte vocal dobrada volta em cena "all the shots I taaaaake, I spit back at yoooouu". A faixa desembesta para um hardcore atrapalhado ao final, meio banda de garagem, e isso que é interessante.
08. Sweet Amber
Parece Corrosion mais uma vez, misturando com System of a Down, estrutura de rock´n´roll, meio despreocupado. Os riffs são diretos, não é uma das mais esquisitas, e tem aquele vocal clássico do James. Mas há partes em que o ritmo desacelera e soa como um cruzamento com o Pantera, com um ligeiro "breakdown" no ritmo, que logo volta à mesma estrutura rock´n´roll cervejeiro motoqueiro de sempre. Não é um dos destaques, mas é uma boa faixa.
09. The Unnamed Feeling
Sem dúvida a faixa mais próxima do Nu-Metal do disco. Afinação baixíssima, desta vez em Bb (Si bemol, a mesma utilizada no álbum Roots do Sepultura e muitos outros modernetes). O ritmo é mais cadenciado, e com os vocais ao fundo "been here before" sussurrados. Lembra System of a Down na estrutura e na forma de cantar, especialmente o refrão. E a parte "it comes alive, and I die a little more" quase falada no meio dos riffs batidos, chega a lembrar Korn, pois é meio claustrofóbica, com aquele ritmo martelado, repetido, mas soa bem interessante. O vocal é Metallica puro, em toda a faixa, lembrando da era Load / Reload, mas com toques de SOAD por toda a faixa, e um tanto de Korn. Quase ao final há uma parte em que acontece o clímax da música. James começa a murmurar, lembra muito Korn essa parte, por causa da forma de cantar, meio chorada, sofrida. A música acaba com um riff diferente, que lembra Deftones. É o mais próximo de uma "balada" no álbum e mesmo assim ESPANCA!
10. Purify
O riff do início desta música lembra Limp Bizkit, e até as partes quebradas, com bateria "tum tum; tum tum; tum tum; tum tum". Aqui até a linha de vocal é mais para Nu-Metal. Soa como um cruzamento bizarro de Limp Bizkit com Metallica e System of a Down, na parte do refrão. Faixa sem muitas variações, agradável, mas não inova muito.
11. All Within My Hands
Faixa interessantíssima. Começa com um riff e batidas "pancadeiras" e logo joga guitarra para segundo plano, sem perder o ritmo, e mantém a ênfase nos vocais de James, leves até, culminando em um coro que sobe de forma leve "ohhhhhhh" e chega no refrão que explode "All within my hands bewaaaaareeeeahhhh". A batida no refrão continua "tu-pa-tu-pa-tu-pa-tu-pa-tu-pa-tu-pa" e leva a uma seção com riffs quebrados remanescentes do Pantera, alternando com os riffs normais da música. Realmente, esta faixa é o Metallica antigo, guardado dentro deles, brincando com climas, alternando ritmos, e emprestando muito das estruturas musicais do Pantera. Genial, faixa fantástica, fecha o álbum com chave de ouro.
Veredicto? Sim, se vocês concordam ou não eu não tenho culpa nenhuma, mas eu prefiro o St. Anger do que o Death Magnetic, é sério. O Death Magnetic é mais próximo do Metallica original, tem solos, e muitas outras características boas, Trujillo tocando o baixo, etc. Se eu quiser o Metallica original eu ouço o grandioso Master of Puppets, ou o Ride the Lightning. St. Anger é um álbum legal pra cacete e pouco apreciado. Tentaram várias coisas novas, ritmos, afinações, influências, é um álbum experimental e interessante, e apanhou muito por causa disso. Os solos até que fazem falta sim, mas só mesmo AC/DC e Ramones para lançarem o mesmo álbum sempre e serem legais. Para o Metallica a mudança foi interessante, pelo menos naquele período. Para mim St. Anger é melhor até mesmo do que o Black Album! Pronto! Falei! Sorte dos que gostam...